8/7/2008
Causos
Causos
Questões trabalhistas
Explicação de um operário português sinistrado à companhia seguradora que estranhou a forma como o acidente ocorreu. Esse é um caso verídico cuja transcrição foi obtida através de cópia de arquivo na companhia seguradora. O caso foi julgado pelo tribunal de Justiça da Comarca de Cascais, Portugal. Vale dizer que ao ser questionado sobre a causa do acidente o cidadão apenas respondeu “tentando fazer o trabalho sozinho”.
Justificativa apresentada.
Ao tribunal de justiça da comarca de Cascais.
Exmos Senhores.
Em resposta ao pedido de informação adicional informo o que segue:
No quesito número 3 da participação de Sinistro mencionei “ tentando fazer o trabalho sozinho” como causa do meu acidente. Disseram na vossa carta que deveria dar uma explicação mais pormenorizada pelo que os detalhes abaixo sejam suficientes.
Sou assentador de tijolos. No dia do acidente estava a trabalhar sozinho num telhado de um edifício novo de seis andares. Quando acabei o meu trabalho verifiquei que tinha sobrado 250 quilos de tijolos. Em vez de os levar à mão para baixo, decidi coloca-los dentro de um barril com a ajuda de uma roldana a qual felizmente estava fixada num dos lados do edifício no 6º andar.
Desci e atei o barril com uma corda, fui ao telhado, puxei o barril para cima, coloquei os tijolos dentro. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força de modo a que os 250k de tijolos descessem devagar (de notar que no quesito 14 meu peso era de 80k).
Devido a minha surpresa por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci de largar a corda. É desnecessário dizer que fui lançado ao ar a grande velocidade. Na proximidade do 3º andar, bati no barril que vinha a descer. Isto explica a fratura do crânio e a clavícula partida.
Continuei a subiar a uma velocidade ligeiramente menor não tendo parado até os nós dos dedos da mão estarem entalados na roldana. Felizmente que já tinha recuperado minha presença de espírito e consegui apesar das dores agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se, sem os tijolos o barril pesava aproximadamente 25k (refiro-me novamente ao meu peso indicado no quesito 14). Como podem imaginar comecei a descer rapidamente. Próximo ao 3º andar encontro o barril que vinha a subir. Isto justifica a natureza dos tornozelos partidos e as lacerações das pernas, bem como da parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu minha descida o suficiente, que minimizou os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos. Felizmente só fraturei três vértebras.
Lamento no entanto, informar que enquanto me encontrava caído em cima dos tijolos com dores e incapacitado de me levantar e vendo o barril acima de mim, perdi novamente minha presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais do que a corda e então desceu e caiu em cima de mim partindo-me as duas pernas.
Espero ter dado a informação solicitada do modo como ocorreu o acidente
Abraço carinhoso
Joaquim Figueiras
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
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