19/7/2009
Artes Plásticas
João Rossi deixa sua obra e história na Vila Sônia
(texto publicado no Jornal da Vila Sônia pelo seu falecimento).
Professor Rossi, artista plástico, faleceu no dia 18 de julho de 2000, em sua residência, na Vila Sônia. Rossi e sua companheira escolheram o bairro da Vila Sônia, em 1958, para construírem a residência da família e também o ateliê, que tem o nome "Estúdio Isabel Olmedo". O amigo e arquiteto Bernardo José Castello Branco foi seu companheiro, criador do local propício para a família Rossi se instalar.
O professor João Rossi foi mentor, fundador, diretor e professor de várias faculdades e cursos de artes plásticas em São Paulo, dentre elas a FAAP, Mogi das Cruzes, UNAERP, MAC, Mube e Mackenzie, onde se aposentou em 1986. Não se desligou do magistério, continuou ministrando palestras e organizando cursos de extensão universitária. Teve sempre o objetivo de passar para seus alunos e seguidores as novas tecnologias que pesquisara.
Nos últimos anos, especializou-se em ministrar cursos de gravura em metal, gravura esta, como era de se esperar, com tecnologia e matérias-primas bastante inovadoras. Artista que dominava várias técnicas, foi: pintor, gravador, ceramista, escultor e muralista. Era grande pesquisador das diversas matérias-primas. Gostava de se enveredar no inesperado resultado do "novo". Todas as formas de expressão plástica eram muito importantes e, muitas vezes, se fundiam num único trabalho.
Criou a expressão "Polimatéria" ou "Polimatérica", que traduz o resultado final da sua obra de arte. Rossi teve duas linhas temáticas em sua obra: "São Paulo" (cidade onde nasceu, na Rua Augusta, em 1923), com seus prédios, casarões, favelas, morros e praças; e o "Ameríndio",ou melhor, a mulher ameríndia, grande paixão da sua vida.
Rossi difundiu sua arte por toda América Latina, com obras expostas nos principais museus. Sua última exposição, que pôde acompanhar, foi uma retrospectiva realizada na Galeria do Memorial da América Latina, em junho de 1999. Sua família e alunos darão prosseguimento ao seu objetivo didático: tornar seu ateliê um "Museu Escola".
José Enrique Rossi - Curador do acervo
"Rossi retoma a gravura e a recompõe com traços e cores que reteve nos roteiros ameríndios. No metal, a paciência e os detalhes dos tapeceiros; na forma da cerâmica, a alma do sofrimento - um negativo que só seus olhos imaginam, no papel - em poucas cópias, - a textura do veludo, os relevos das paredes, dos corpos e da terra ; a simplicidade do crayon; as cores do pastel e da aquarela. A técnica que serve de expressão real."
Trecho de "A face irreversível da América Latina"
Anthony de Christo - 1978
"(...) Rossi é um pintor da realidade que recorre à gravura porque esta técnica é a multiplicação do original, da placa do metal. A gravura é apenas suporte para a impressão, portanto todas as cópias são originais, concebidas, claro, como a multiplicação do pão. Trata-se de um pão destinado aos sentidos. Ele alimenta as sensações, seja para alertar dos perigos ou embelezar as ações bonitas da humanidade."
"(...) Rossi castiga a placa intensamente. Arranca dela todas as possibilidades. Entalha-a. Martiriza-a vincando nela o estilete agudo para marca a escritura de força vital de homem que sente em profundidade o projeto de arte em criação. Surgem os niños muitos, as cenas de rua, os marginais, as prostitutas. Emergem as elegias, cantadas em surda-voz, murmúrios abafados das figuras verdolengas - nem mortas nem vivas: párias esquecidos, sobreviventes persistentes e teimosos da América Latina."
Trechos de "Curtir o metal"
Radha Abramo - 1979
"(...) Rossi soube apreender a beleza dura dos prédios e das ruas, a sombra dos arranha-céus e o resplendor das grandes vias de comunicação, descobrindo a sua luz especial e a sua melancolia contemporânea. Com o seu talento de pesquisador, pôde sempre encontrar a técnica adequada. Em certas fases adaptou de modo surpreendente antigas técnicas pouco conhecidas da pintura da renascença, noutras, criou técnicas pessoais avançadas, como nas suas paisagens em planos múltiplos."
"A técnica de gravura em relevo desenvolvida por Rossi representa uma contribuição admirável sob vários aspectos, sobretudo pela riqueza de texturas pictóricas, que permite obter uma espécie de produção de múltiplos no domínio da pintura de textura."
"(...) Rossi sentiu a necessidade da pintura a óleo com a sua dramaticidade intrínseca, associada sua marcada temporalidade. Na sua abertura de uma nova linguagem cromática, Rossi dá uma contribuição importante para nossa pintura, abrindo novos horizontes de expressão pelo cromatismo. Na sua fase atual, a pintura de Rossi representa uma contribuição da mais significativas para um nascente neo-expressionismo brasileiro."
Trechos de críticas
Mario Schenberg - 1974, 1977 e 1981
"Raros gravadores têm, em qualquer parte, a mesma dedicação e liberdade criativa de João Rossi. Ele trabalha o seu suporte como se fosse uma escultura ou uma matéria-prima. Ele o retalha, articula vazios e relevos em sistemas especiais de elaboração que, forçosamente, determinam o processo de impressão e as características do papel, sempre com as marcas desta matriz revolucionária: relevos, marcas, estruturas geométricas. Por este ângulo, Rossi poderia ser um formalista. Mas, como este extremo requinte formal está aliado à sua visão humanística, Nós temos um conjunto integrado no qual se encontra uma gravura em plena maturidade e processo e nos limites do possível na técnica. Rossi, por este lado, ainda que não seja esta a sua intenção primordial, discute os limites da gravura como poucos o fizeram. Como estamos distantes da gravura como ilustração ou peça decorativa!"
Trecho de "Enfoque humanístico"
Jacob Klintowitz - 1992
"(...) Estas composições, provavelmente, objetivam uma temática preferida por João: seguir a arquitetura dos arranha-céus reproduzida em pinturas impressionisticamente apuradas, às vezes pousadas por transeuntes, de improviso aparecendo a semelhança de sua Índia, alusão...origem da terra danificada pelo progresso. Isto em pintura, na escultura, ou melhor, no objeto a abstração."
Trecho do texto "Lembranças do atelier labiríntico de Rossi"
Pietro Maria Bardi - 1983
"João Rossi sempre foi um expressionista, liberto e libertador de convencionalismos e academiscismos. Sua produção artística vai além do anedótico, do prosaico e do ilustrativo para alcançar, num vôo mais amplo, o homem na sua plenitude, universal, e ao ultrapassar esta barreira, revelar as aspirações, os sonhos e os dissabores da própria humanidade: o cotidiano conflagrado por mãos hábeis, seguras, repleto de emoções e arrebatamento, inerente a produção dos grandes artistas."
Trecho de crítica "A técnica e a emoção de gravar de João Rossi"
João J. Spinelli
"Fazendo a síntese dos dois polos temáticos - o homem e a cidade - Rossi passou à realização de uma magnífica abordagem desse repertório em gravuras, aquarelas e óleos, com a utilização de técnicas mistas que denotam um conhecimento técnico exemplar e uma aguda sensibilidade."
Trecho de crítica "A obra vigorosa de Rossi"
Enock Sacramento - 1982
"Rossi desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento da arte paraguaia, porque nos ensinou a ver, a ler a obra de arte, além de guiar-nos na forma em que se toma o lápis para traçar a linha que necessitamos, de mostrar-nos como escolher o pincel e como usá-lo para conseguir a textura que desejamos. Nos fez descobrir e gostar do cubismo. E saber diferenciar um quadro impressionista de um expressionista. Foi Rossi quem nos mostrou e nos falou da arte abstrata, fazendo-nos entender que a abstração não mataa figuração, mas que oferece outras possibilidades à expressão, enriquecendo-a, e, mais que tudo isso, mostrou-nos sua obra, na qual o que dizia em palavras podia ver-se em cores."
Trecho de crítica "João Rossi, artista e professor"
Olga Blinder (artista plástica e professora) - março de 1999
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
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