1/3/2008
PETIÇÃO
Petição
A melhor forma de solicitar alguma coisa, acho, ainda é através do talento. Quando Jânio Quadros era prefeito de S. Paulo recebeu uma insólita petição, em verso, de um médico da capital que havia perdido seu carro em conseqüência da queda de uma árvore.
O médico escreveu para o gabinete do prefeito que autorizou sua publicação no Diário Oficial do Município do dia, 04/07/87 Sábado. O seguinte:
Excelentíssimo Senhor
Jânio da Silva quadros
Prefeito do Município
Minha história de natal,
A começar do princípio,
Vem dum fato trivial,
Uma árvore morreu
Nas ruas da capital.
Só que o carro era o meu
(o que se vê no postal)
Foi isso que aconteceu
Na véspera do meu natal.
Não ventava, nem chovia,
Era um dia bem normal,
E meu carro, junto à guia,
Parado em lugar legal.
Quem vive da medicina
Não pode-caso direi-
Se uma árvore cai em cima
Substituir um Del Rey.
Não era novo, era usado,
Dos anos oitenta e um,
Eu já estava acostumado,
Não trocava por nenhum.
Agora está na oficina,
Com os carros remendados,
E o orçamento imagina,
São setenta mil cruzados.
Junto vai meu holerite
Pra mostrar a situação
De quem cura apendicite
Na barriga do povão.
Eu digo, com muita dor:
Exercer a medicina
Na função de professor
É uma dor que desatina
Profissional de valor.
Em qualquer país distante,
Ensina-se só medicina:
Mas não cabe numa estante
Aquilo que aqui se ensina.
Pois num país como o nosso
Cada médico precisa
Lembrar-se, ter a certeza,
Que ao lado da doença
Há também que combater
Miséria, atraso e pobreza.
Se assim escrevo ao senhor
É pra pedir um conselho,
E me diga, por favor,
Como fosse caso alheio.
Como devo proceder
Para ser indenizado?
Ou o destino assim quis,
Sou eu que sou azarado.
Sou homem de estimação
Educado com ternura
Deverei mover ação
Importunar prefeitura?
Espero que sua resposta
Influa na vida minha.
Ou a vida é sem resposta
E sem rumo é que caminha?
Marcelo Toledo
Mas o Jânio, aquele que disse que fi-lo porque quí-lo, como professor de lingua portuguesa quis fazer bonito e respondeu:
O bom médico Toledo
Pediu indenização
E requereu-a sem medo
De receber o meu “não”.
A árvore caiu por cima
Do carro de estimação
E ele menciona a sina
Que parece maldição.
O vegetal era nosso
Como o prova a petição
Devo pagar, e eu posso.
A pobre indenização.
O remédio, pois, eu acho
É saldar o prejuízo
Assim decido e despacho
Ao Manhães que tem juízo.
J. quadros, prefeito
É inegável que a capacidade do médico em inovar na petição muito contribuiu na resolução do problema.
Francisco Gonçalves de Oliveira
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
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