terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Negra nojenta

16/12/2008
Negra Nojenta

Negra Nojenta

Escrevemos muitas vezes sem saber para quem e por que. Não acreditamos muito, que alguém se interesse por um texto particular escrito muitas vezes para desabafar, ou como simples exercício de escrever. Mas precisamos isso sim, de tempo para dizer o que pensamos. E procuramos de forma harmoniosa transmitir nosso conhecimento, analisando cada palavra que surge em nosso pensamento.

Escrever é sempre um desafio, dizer nossas verdades de forma inovadora, procurar ajeitar as palavras de forma que outro não tenha vindo antes e tenha escrito tal qual você, o que é praticamente impossível, dado o estilo que é a maneira de contar de cada um de nós. As palavras que empregamos muitas vezes não se adaptam ao que queremos dizer, mas escrever é isso, uma tentativa constante de criar, com arte, um texto que possa transmitir ao leitor prazer e conhecimento.

E dessa forma canalizando todas as minhas energias para evoluir rumo a padrões mais elevados da consciência humana é que me torno a cada dia, mais humano, pelo menos eu tento. E vendo ouvindo falando e discutindo é que ouvi uma amiga minha quase negra; quase branca; e quase índia dizer a outra também quase tudo:

- Sua negra nojenta!

Diante de minha surpresa, pela liberdade de expressão dela em relação à outra, pois em determinados assuntos em que não entendo muito bem, como é o caso, fico meio tímido. Ela colocando suas delicadas mãos em suas ancas diz:

-Não sei por que, pois você não é tão branco assim!

Ah! Então é assim se sou negro posso descer a lenha nos negros? Para mim isso tem outro nome: Ignorância! Mas eu ouvi um causo que embora envolva raça achei muito interessante. O caso é o seguinte:

Havia uma aluna negra na sala de aula e a professora sempre falava em tom agressivo para ela:

- Você não serve nem para ser porta bandeira de escola de samba!

A aluna a cada vez que ouvia aquelas palavras, se revoltava por dentro, mas sem nunca deixar transparecer a sua revolta. E muitas vezes ao deitar se perguntava: Por que a professora falava aquilo com ela... Não era uma professora má, era austera isso era verdade, mas era capaz de abraçar um de seus alunos e compartilhar seus problemas e sentimentos. Ela mesma já havia sido consolada pela velha mestra. Mas suas palavras ecoavam como um zumbido em seus ouvidos a cada vez que se lembrava da sentença da velha professora:

- Você não serve nem para ser porta bandeira de escola de samba... Por quê? O tempo passou e a velha mestra já aposentada gozando seu merecido descanso, apenas com a certeza do dever cumprido, adoece repentinamente e conduzida às pressas para um hospital, fica aos cuidados médicos em observação, pois seu caso é grave. O chefe da UTI comunica à diretora do hospital o estado de saúde da paciente que ao saber quem estava lá fica estática, pois a diretora do hospital por um capricho que só o destino pode explicar era aquela mesma negra que um dia lhe sentenciou:

-Você nunca será nem porta bandeira de escola de samba!

-E agora... Meu Deus! Só eu poderei salvar essa mulher que me impressionou por toda minha vida!

- E dirigindo-se ao leito de sua antiga professora a encontra quase morta na cama.

- Professora, você sabe quem sou?

- Não, não estou lhe reconhecendo.

-Eu sou aquela que a senhora disse um dia que eu não servia nem para ser porta bandeira de escola de samba. Hoje sou a diretora desse hospital o melhor e maior da cidade. Eu nunca entendi porque a senhora disse aquilo comigo... Por quê?

A velha mestra já sem forças puxa a gola da túnica branca da diretora do hospital e sussurrando em seu ouvido diz:

Eu disse aquilo para que você hoje estivesse onde está.

Francisco Gonçalves de Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário