Caroline Celico, esposa de Kaká, dá palestra sobre religião no Morumbi
Vamos todos fazer um exercício simples.
Paremos tudo que estamos fazendo. Desliguemos a música no fone de ouvido, a planilha do Excel, o browser de internet. Fechemos as portas e janelas de nosso quarto, coloquemos nosso celular em standby. Fiquemos em silêncio completos.
Agora pensem na grande cidade de São Paulo. Pensem no Ibirapuera e saudáveis pessoas fazendo um jogging na beira do lago. Pensem na Avenida Paulista e seus executivos de terno e gravata, apressados com o dia. Pensem no Morumbi, com suas coberturas e andares exclusivos. Pense nas madames com o cabelo produzido carregando bolsas de peles de animais em extinção. Pense, agora, no relógio que essas madames carregam no braço, que foi produzido a muitos kilômetros daqui, em um país distante, onde as pessoas trabalham cargas diárias de 12 horas em uma linha de produção para receber um salário de cerca de R$300,00 mensais. Uma dessas pessoas freqüenta uma igreja subterrânea, em um país onde além do cristianismo ser perseguido, existe poucos exemplares da bíblia, e poucos missionários dispostos a arriscar o pescoço para compartilhar do evangelho que dinheiro e relógio nenhum é capaz de comprar.
Pensem, voltando para São Paulo, que atrás desses lindos apartamentos de cobertura, moram sonhos.
Um garoto, criativo, sabe como empunhar um lápis de cor como ninguém. Diante do papel, consegue fazer desenhos lindos, e seria ele diz um grande ilustrador, se a vida lhe desse chance.
Mas não dá, porque sua família é pobre. Ele não tem conta no banco, de forma que não consegue parcelar no crédito sequer um computador das Casas Bahia, muito menos fazer uma faculdade – que para um ilustrador, é necessário desembolsar cerca de 900 reais por mês. Ele ganha, se tanto, 800 trabalhando como moto boy em uma pizzaria da região, e é obrigado a repor o dinheiro no caso da entrega demorar mais de 30 minutos. E se isso acontecer, pode ter certeza que os ricos residentes repararão na falha.
Tudo que esse garoto precisava era cerca de 1000 reais de investimento mensais, e ele se tornaria um profissional de sucesso. Não rouba, nem estupra, nem mata. Nem precisa pedir dinheiro, porque atenta para sua dignidade. Mas se continuar sem intervenção externa, nunca sairá de seu círculo vicioso de miséria.
Voltemos ao apartamento.
Caroline Celico prova, sorrindo um patê de Foie Gras, e diz: “mulheres lindas, vocês foram privilegiadas por Deus! Portanto, cheguem mais perto de Jesus, porque Ele as ama”. Um anel de brilhantes ofusca a visão de quem observa a serva do Senhor, ao refletir a luz que entra pela janela de aproximadamente 3 metros de altura, aberta em contraste com o céu cinzento da cidade. As outras mulheres invejam, porque seus anéis de pedras preciosas não são tão caros e/ou bonitos quanto aquele. Quando Caroline se abaixa para pegar mais um petisco, um burburinho rápido entre duas mulheres comentam sobre isso, e como fazer para reparar a falta. Afinal, dizem, só se alcança status e admiração se nos igualarmos ou superarmos aqueles que nos cercam em posses. É assim que sobrevivemos e provamos nosso valor.
Não é à toa que Bispa Sônia desfila em carros maravilhosos e possui uma mansão em Boca Raton, um dos locais mais caros por metro quadrado no mundo.
Queremos evangelizar os ricos! Paulo não havia dito que precisamos nos tornar iguais para falar a mesma língua?
Não interessa se com um relógio se mataria a fome de milhares de crianças no nordeste. Não interessa se uma família pobre perdeu tudo na enchente, e que com duas ou três peças do meu vestiário eu poderia tirá-las da marginalidade.
Tudo o que importa é que eu me sinta bem e tranqüila. Aliás, não quero sentir culpa.
Nenhuma por comer lasanha enquanto outros comem lixo. Eu não tenho nada a ver com a vida deles, e é assim que vivemos: cada um por si!
Essa é uma selva de pedra, meu irmão! Quem passa a perna, quem sempre vê uma forma de levar vantagem, quem já nasceu em berço de ouro merece muito mais viver em abastança; só não é rico quem não quer! Pode reparar que todos pobres são vagabundos! Foi Jesus mesmo que disse isso, naquele trecho…
Peraí, qual trecho mesmo?
Ah, no trecho que ele aceita se vestir com um manto feito de tecidos caríssimos para Ele. Aposto como vale muito mais que milhares de reais, porque além de eu ser expert em intercâmbio de moedas antigas para modernas, sei que Ele, como Deus, poderia se dar a esse luxo e também quer que eu o faça (sede santos como eu sou santo)!
Dane-se o reino de justiça, de bondade, de humildade e de auto-sacrifício! O que importa mesmo é minha lasanha, minha blusa de seda, meu patinete, meu relógio de 3 mil reais, meu discurso armado, minha ganância em ter cada vez mais, meu apartamento no Morumbi, meu patê de Foie Gras, meu pastoreado numa igreja sanguessuga e o direito de estar sempre certo!
E se você achar o contrário, você está me julgando, e tenho certeza que o Deus de justiça vai te punir severamente!
Principalmente você, Pava, seu herege.
Sem a paz de Cristo,
Thiago.
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