domingo, 11 de abril de 2010

Soletrando 2010.

Quando cheguei a S. paulo à trinta e sete anos atrás, o meu objetivo era trabalhar e poder ser alguem na vida. Esse é o objetivo da maioria daqueles que migram para o sul do país. Chegamos com nossos sonhos e o que encontramos, na maioria das vezes, é muita dificuldade. O nordestino em S. paulo quer o que ele não tem em sua terra, que é poder trabalhar com dignidade ou seja, o básico necessário para qualquer cidadão progredir na vida.
Os problemas começam com os preconceitos, as pessoas que aqui chegaram a mais tempo, vindos das mais diferentes regiões da Brasil e do mundo vêr nesse movimento migratório uma ameaça à sua estabilidade. Esses acontecimentos fazem parte da história de S. Paulo, no passado eram os Italianos os maus feitores. Tudo que acontecia de errado era culpa das marranos, palavra pejorativa designativa dos judeus, mouros e italianos entre outros tidos como intrusos.
Mas o tempo passou e esses migrantes adquiriram, através de muito sacrificio, o reconhecimento da sociedade. O escritor paulista nascido em Piracicaba, soube como ninguem arrancar das páginas dos jornais da época belas crônicas retratando o jeito e a fala dos italianos do Brás, Bexiga e da Barra Funda. A comovente história do Gaetaninho, uma criança pobre que sonhava passear de carro e que esse passeio só acontece quando o pequeno Gaetaninho corre para pegar uma bola sendo atingido por um bonde que lhe ceifa a vida.
A crônica de Alcântara Machado diz: "Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da rua do Oriente e Gaetaninho, não ia na boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia na frente dentro de um caixão com flores pobres por cima." Essas eram as crônicas colhidas por Acântara Machado da sociedade da época.
Hoje, passados tantos anos do milagre brasileiro, onde diziam que o Brasil estava crescendo, e o que o paraiso era o sul do pais, estamos nós, nordestinos aqui no sul do país. Passamos por muitos constrangimentos por estarmos em terras estranhas, mas soubemos fazer nossa parte. Como bem nos caracterizou o escritor Euclides da Cunha: "O Sertanejo acima de tudo é um forte". Educamos nossos filhos para que hoje eles nos deem orgulho, não apenas a nós, como também aos paulistas e a todo povo brasileiro.
Ontem dia 10 de abril foi a final do soletrando do Caldeirão do Huck e pela primeira vez um paulista é finalista do soletrando. E esse representante de S. Paulo é filho de um casal Alagoano o Sr. Luis Honório Silva e sua esposa D. Maria de Fátima.
Dener Luis silva 12 anos 7ª série do ensino fundamental, aluno da E.E Américo Brasiliense, é o novo campeão do soletrando 2010. O Dener também foi medalha de prata da olimpíada de matemática do ano passado. Eu como nordestino, cearense, fico orgulhoso de sua vitória, pois é isso que nós nordestinos desejamos ao migrar para S. Paulo: Mostrar a nossa garra e a nossa força, e que temos muito a contribuir com a cultura de S. Paulo e do Brasil.

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