sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um gênio ensandecido
inaciowerneck@hotmail.com

Bristol (EUA) - Lembro-me bem da disputa pelo título mundial de xadrez entre o americano Bobby Fischer e o russo Boris Spassky. Os jornais brasileiros, que raramente davam notícias de xadrez, passaram a dedicar espaço generoso ao esporte. E por algum tempo houve mesmo a discussão: xadrez é esporte?
Apesar de diversas opiniões contrárias, as notícias continuaram a sair nas páginas esportivas, alimentadas pela rivalidade entre russos e americanos, nos tempos da guerra fria, pois estávamos no ano de 1972. Três anos antes os americanos haviam desembarcado na Lua e uma vitória em uma atividade que há tantos anos era dominada pelos grandes mestres russos seria mais um apanágio para os Estados Unidos.
O encontro foi cheio de drama, sobretudo pelo temperamento estranho de Bobby Fischer, uma espécie de gênio irascível, que perdeu a primeira partida reclamando constantemente do barulho das câmeras de televisão, abandonou a segunda (pelo mesmo motivo) e só apareceu para a terceira porque os organizadores do evento, na Islândia, concordaram em transferir o campeonato para um sala hermeticamente selada contra qualquer barulho.
Ao fim, vitória de Bobby Fischer por 12,5 pontos contra 8,5 pontos, o que foi bom para ensinar ao público brasileiro que em xadrez uma vitória conta um ponto e um empate vale meio ponto. Ao todo Fischer ganhou sete partidas, empatou 11 e perdeu apenas três, incluindo a que se recusara a disputar.
A luta entre Bobby Fischer e Boris Spassaky, grande sucesso no mundo inteiro, fez até o Brasil mostrar grande mas momentâneo interesse pelo xadrez, com a figura de Mequinho, que acabou obrigado a deixar as competições por motivo de doença.
Fischer, por seu lado, passou a dar mostras de crescente paranóia, imaginando inimigos e conspirações por todo o lado. Basta dizer que, filho de mãe judia (e, aparentemente, pai também judeu, pois o alemão Gerard Fischer, que estava casado com a mãe de Bobby à época do nascimento aparentemente fora enganado pela esposa com um judeu húngaro chamado Paul F. Nemeninyi), começou a se destacar pelo anti-semitismo, apontando os judeus como causadores de todos os males da humanidade.
Bobby Fischer renunciou à cidadania americana, foi preso no Japão, tirou todas as obturações dos dentes por achar que o governo dos Estados Unidos transmitia através delas mensagens subliminares, e foi morar na Islândia, local de seu grande triunfo. Pode-se dizer, sem exagero, que, ao morrer, aos 64 anos, estava louco.
Seu Q.I. era de 181. Sua história nos convence de que tais dotes intelectuais às vezes são mais uma maldição do que uma benção.

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